PROFESSOR, PROFISSÃO AGONIA!


Cremos ser pertinente um debate sobre a crise da educação pública brasileira, sobretudo diante da adoção de paradigmas pedagógicos voltados para a espetacularização das aulas nas quais cabe ao professor, apenas, "seduzir" a consciência dos estudantes cada vez mais carente de estímulos psíquicos intensos, presentes nas danças, nas gritarias, nos sensualismo barato e em outras futilidades que, de antemão, exigem o empobrecimento do vocabulário dos alunos, uma vez que, nessa conscientização alienante, eles obrigam a retirada de qualquer palavra tida como difícil, desvalorizando-a em seu estreito universo simbólico e, consequentemente, reprimindo a riqueza semântica do discurso.

Desse modo, temos um perfil de estudante, propositalmente idiotizado, que não só insiste no seu absurdo desinteresse intelectual, ao não interagir com os conceitos de estudo apresentados pelo professor, como ainda tenta impedir a transmissão dos mesmos utilizando os meios mais estúpidos e inteiramente contrários aos objetivos de "acolhimento aos oprimidos" propostos e alardeados pela Secretaria da Educação.

Os professores, assim, são transformados em meros comerciantes que jamais podem desagradar aos consumidores-alunos e, por isso, não mais impõem a disciplina, "optando" pela adoção de um nefasto paternalismo que além de infantilizar o aluno não permite o seu amadurecimento existencial, justamente por não sofrer qualquer entrave em sua vida estudantil, principalmente pela flexibilidade do processo avaliativo que visa a aprovar sempre e ainda procura evitar situações estressantes com os próprios alunos ou com seus pais e outros familiares.

Além disso, os docentes, submetidos corriqueiramente a revoltantes casos de assédio moral ou de agressões físicas no cotidiano escolar, não encontram na estrutura governamental e muito menos na própria escola um amparo que possa extinguir tais mazelas e resgatar, enfim, a dignidade da figura do professor.

Na realidade, por diversas vezes, ao solicitar punições mais rigorosas a alunos insolentes ou agressivos, o professor acaba desautorizado por burocratas da educação travestidos de "especialistas" ou mesmo por certos membros da instituição escolar, que, dessa forma, incentivam uma cínica permissividade, acentuando, por consequência, a perda de qualquer respeito do aluno pelo docente.

A serviço de uma gestão pública absolutamente plutocrática; isto é, influenciada pelo poder do dinheiro, esses falsos educadores ,dirigentes da educação ,objetivam, na verdade, manter o alunado em estado de precarização intelectual, desprovido do mínimo conhecimento para a sua capacitação profissional e para o livre exercício da cidadania onde poderiam aprender a reivindicar direitos e a questionar ações públicas omissas, tais como mau atendimento em hospitais, transporte mais digno e, principalmente, uma educação com mais qualidade, a exemplo do que pregam os políticos antes de serem eleitos.

Lamentavelmente, o professor de nossos dias ensina a uma massa indistinta composta por alunos e aparatos tecnológicos conectados a um mundo globalizado que julgam muito mais interessante do que o conteúdo apresentado pelo docente em sua ingrata missão de educar. Todavia, se por um lado, esses alunos da era tecnológica são informados de diversos acontecimentos ocorridos pelo mundo afora; por outro lado, desconhecem as condições mais violentas que estão cobertas no seio de sua própria sociedade como a criminalização da pobreza, com um crescente número de jovens envolvidos em furtos e tráfico de drogas, além da repressão policial e dos preconceitos de toda espécie que, certamente, comprometem a imagem futura dessa juventude no âmbito do convívio social.

Apesar de todas as indiscutíveis facilidades advindas dessa auspiciosa época tecnológica, nela perdemos a capacidade de ouvir o outro. Os alunos, e até mesmo professores, não querem ouvir o discurso do outro. Não valorizam a arte da escuta, que exige paciência e acolhimento; sendo que muitas vezes, até impedem seus colegas de enunciar o discurso e transmitir suas ideias.

Nesse caduco contexto, resta ao docente integrar os recursos tecnológicos como ferramentas didáticas nas suas atividades pedagógicas, pois, os alunos, e até mesmo professores, costumam, por vezes, violar as regras ou a lei que proíbe o uso de celulares e aparelhos sonoros em espaços educacionais, mostrando   evidente irritação quando  solicitados a guardar seus hipnotizantes brinquedos eletrônicos.

Cabe acrescentar que embora muito difundidas pelos “filisteus da cultura", entenda-se pelos tecnocratas das novidades pedagógicas, as experiências comunicacionais mediadas por esses instrumentos tecnológicos não promovem a diversidade tão propalada e, muito menos, o conhecimento de outras pessoas, mas, tão somente, um egoísta silêncio interior repleto de quase nada, ou nada mesmo, relativo ao conhecimento sistemático ou epistemológico.

Inseridos em uma sociedade individualizada pelo "ter", o alunado é incapaz ou desinteressado em dialogar com qualquer inteligência externa, reconhecendo nela o propósito e a importância do discurso, pois, prefere os prazeres sensoriais e os entretenimentos dos celulares e dos seus aplicativos.

É evidente, portanto, que as nossas plataformas de ensino não pretendem com o uso da tecnologia formar pessoas solidárias, carinhosas ou amáveis. Observemos o gradativo aumento de crianças e jovens ansiosos, tristes e deprimidos, com os nervos à flor da pele, pois nem suas famílias ou a escola propriamente dita lhes ensinam a administrar suas frustrações, enganos ou raivas.

A escola, infelizmente, tornou-se a válvula de escape dessa sociedade opressiva e quem se vê obrigado a suportar toda pressão é o desmotivado professor, que já nem ao menos encontra qualquer estímulo para aperfeiçoamento ou qualificação profissional. Nossa conjuntura sociopolítica, ideologicamente autoritária, tem prosperado por meio da humilhação e da depreciação da dignidade profissional da figura do professor que, costumeiramente, é ainda,  submetido a repudiosos casos de assédio moral que vão desde a cobrança pelo fracasso de aprendizagem de alunos alheios ou mal preparados até as perseguições institucionais, seja de gestores, diretores da escola ou coordenadores  pedagógicos, resultando na paulatina perda de prestígio profissional e nas doenças como síndrome do pânico e depressão que sistematicamente atingem os nossos educadores.

À luz desse tenebroso cenário, resta ao professor jamais revidar qualquer ofensa ou agressão; quer seja de alunos, colegas ou superiores, devendo calar-se docilmente perante os atentados sofridos, pois no imaginário social, o docente é associado a um santo que exerce abnegada e livremente seu ofício, sem nenhuma pretensão de êxito salarial; como se, enfim, o magistério não fosse exercido por pessoas vivas e expostas às mesmas necessidades de satisfação e de outras carências materiais relativas a qualquer ser humano.

Os alunos, por sua vez, em sua grande maioria, sabendo comunicar com o professor apenas sob o risco de reprovação, ficam alheios quando seus professores lutam por seus direitos profissionais nas greves; isto porque, esse alunado, não enxerga na atividade do docente um instrumento de habilitação profissional ou de emancipação política.

Não são, entretanto, apenas os adolescentes que se omitem às ações voltadas para o respeito e para a valorização profissional do docente; mas, também, muitos colegas, que formando um contrato social burguês com corruptos gestores contribuem para a instauração de uma nova forma política que como um sepulcro caiado é bonita por fora, mas podre por dentro; fazendo parte, enfim, de uma casta espoliadora do bem público e "ignorando” o fato de que sem cidadania na práxis e sem luta coletiva honesta, só há carnaval, só há fanfarras...Festas! Mesmo sem sonho...Mesmo sem feijão! 

Por VALTER SILVA

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