O fim da FILOSOFIA ou “a filosofia do fim”


É, no mínimo, contraditório o espanto dos docentes, sobretudo do ensino fundamental e do ensino médio, diante da possível retirada da disciplina Filosofia do ensino público e também em face da redução de verbas para as universidades, principalmente, as que ministram cursos da área de Humanas, imprescindíveis tanto para a criação de uma consciência crítica quanto para a formação política de nossos alunos.

Desde seu início, a grade curricular brasileira já contava com a Filosofia como uma disciplina fundamental. Esse cenário é invertido, porém, com o golpe militar de 1964 que retirava do currículo do ensino do país não só a Filosofia, bem como a Psicologia e a Sociologia, colocando em seus respectivos lugares a Educação Moral e Cívica para o ensino fundamental; OSPB no ensino médio e Estudos dos Problemas Brasileiros como um dos componentes do ensino superior. Era evidente que com a adoção dessas novas disciplinas, o governo, através da promulgação da Lei n° 5692/71, visava à formação do caráter brasileiro e, especificamente, o culto de obediência cega, sem quaisquer questionamentos, às imposições governamentais. É inegável, então, que o atual Estado brasileiro não seja uma fiel réplica dos governos dos chamados anos de chumbo.

Todavia, o que tem, de fato, nos levado ao jugo de um novo modelo ditatorial não são mais os canhões e muito menos as torturas praticadas contra aqueles que se opunham ao autoritarismo do regime militar; mas, a redução da atividade política à indigna satisfação e administração dos interesses privados, ameaçando a esfera pública em seu caráter plural e comum. Este enfraquecimento da ação política cidadã acontece justamente devido a uma antiga relação de cumplicidade do povo com a intervenção das forças autoritárias.

É importante ressaltar que a palavra "autoritárias", aqui empregada, não se limita  apenas aos governos militares, pois, se refere, também, às ações e às decisões de representantes civis eleitos, revelando, nitidamente, o flerte tentador do abuso autoritário sobre a coisa pública em benefício próprio, onde pessoas do povo, inclusive as mais letradas, submetidas à vontade daqueles que governam não podem agir em nome dos direitos coletivos.

Causa estranheza, portanto, que professores e professoras, especialmente aqueles que atuam na rede municipal de ensino, estejam indignados ou "preocupados" com o fim do ensino da Filosofia nas escolas públicas, justamente, porque o abortamento do impulso crítico com o expurgo da Filosofia de nossa grade curricular, constitui-se apenas em um conhecido mecanismo da meta governamental para isolar os cidadãos por intermédio da massificação e do fanatismo a partidos políticos demagógicos ou a currais eleitorais herdeiros do coronelismo que, dessa forma, preparam o ninho propício para a manutenção e fortalecimento das estruturas sociais totalitárias, seja fardada, seja das "famílias reais”, mas, sempre, com o "auxílio luxuoso" de alguns profissionais da educação.

A sociedade dos nossos dias vive sob uma ordem tecnocrática preocupada somente em desenvolver instrumentos e métodos para satisfazer seus desejos e necessidades. Desse modo, a dimensão do agir humano coletivo perde sua importância para uma gestão técnica de governo que além de transformar a esfera pública em mero espaço de interesses “do grupo”, com o incentivo da viciosa barganha entre governantes e governados, ainda suprime o amor e a solidariedade; transformando, assim, as pessoas em simples máquinas que apenas executam suas funções de forma rápida e eficaz; que não cabem efetivamente ser refletidas.
Nesse contexto, os nossos representantes jamais se importam com a verdade, salvo com aquela que lhes pode ser útil; consequentemente, o pensamento sistemático e a reflexão tornam-se algo sem valor e arcaico, principalmente na escola. Essa depreciação do pensamento como atividade espiritual a favor do acúmulo de informações, não só transforma os alunos em expectadores dóceis e passivos como, de forma sutil, escraviza e acaba desumanizando os próprios professores ao privá-los da reflexão sobre suas experiências vividas no sentido de atribuir sentido às mesmas.

Infelizmente, enquanto o povo brasileiro, de modo especial o contingente mais letrado, não tiver a consciência de que a ação democrática repudia, veementemente, a soberania das vontades individuais, nossos governantes nunca irão governar a coisa pública para o público e, sim, para a instauração da ditadura do privado visando a executar impunemente a corrupção. Isto com ou sem a Filosofia! Afinal, estamos todos muito ocupados e sem tempo para pensar. Não é mesmo, companheiro?

Por: VALTER SILVA

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