Juiz aposentado é investigado em São Paulo por viver 45 anos com identidade falsa

Um escândalo de grandes proporções tem chamado a atenção do país: um juiz aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) é investigado por ter usado uma identidade falsa durante praticamente toda a sua vida profissional. Conhecido publicamente como Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, o homem foi identificado como José Eduardo Franco dos Reis, seu nome verdadeiro.
A descoberta, digna de um roteiro de filme policial, desencadeou uma investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que agora apura a extensão do caso.
Tudo começou de forma quase banal: José Eduardo compareceu ao Poupatempo da Sé, na capital paulista, para solicitar a segunda via do seu RG. Ao apresentar uma certidão de nascimento em nome de Edward Wickfield, ele teve suas digitais colhidas pelo sistema biométrico do Estado. O cruzamento de dados revelou o choque: a identidade verdadeira era outra.
A partir dessa identificação, a polícia civil e o MP iniciaram um processo de apuração que revelou uma teia de documentos forjados, incluindo título de eleitor, CPF, diploma universitário e até passaporte emitidos com o nome falso.
Segundo os promotores, José Eduardo adotou a identidade fictícia ainda na juventude, alegando ser de origem britânica. Com esse nome, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) nos anos 1980, formou-se e ascendeu à magistratura. Atuou como juiz no TJ-SP até 2018, quando se aposentou — sempre utilizando a identidade forjada.
O nome aristocrático, que mais parece saído de um romance inglês, passava credibilidade e respeitabilidade nos ambientes institucionais que frequentava.
Atualmente, José Eduardo recebia aposentadoria do TJ-SP. Porém, com a descoberta da farsa, a Justiça determinou a suspensão dos pagamentos, enquanto as investigações prosseguem.
O Ministério Público ofereceu denúncia formal contra ele por falsidade ideológica e uso de documentos falsos — crimes graves que podem resultar em pena de reclusão. Contudo, até o momento, ele não foi preso e permanece respondendo em liberdade enquanto o caso é analisado.
Mais do que um crime isolado, esse episódio lança luz sobre a fragilidade dos mecanismos de controle e verificação em instituições públicas brasileiras. Como um indivíduo conseguiu sustentar uma identidade falsa por mais de 40 anos, entrar na USP, se tornar juiz e viver uma vida inteira sob uma máscara?
É um alerta vermelho. Autoridades já defendem o aprimoramento dos sistemas de validação biométrica e auditorias mais rigorosas em concursos e registros oficiais
A história de José Eduardo, ou Edward Wickfield, é uma daquelas que nos fazem perguntar: quantas verdades ainda estão escondidas sob documentos bem elaborados? O caso serve de lembrete: em tempos de tecnologia avançada, a verdade continua sendo a arma mais poderosa — e ela sempre aparece, nem que demore 45 anos.
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