Sanfona de Sanfoneiro de Senhor do Bonfim foi destaque no Fantástico.

Uma decisão do juiz Teomar Almeida de Oliveira, da 1ª Vara Criminal da comarca de Senhor do Bonfim, foi tema de matéria do programa Fantástico, da Rede Globo. A sentença em versos rimados, sobre quem era o verdadeiro dono de uma sanfona, já havia ganhado destaque na imprensa baiana.  O litígio envolveu dois sanfoneiros, que diziam ser os proprietários do instrumento.

A disputa começou quando o sanfoneiro Renato Cigano, que mora em São Paulo, foi até a delegacia de Senhor do Bonfim para reivindicar a posse do instrumento usado por Nivaldo Amaro de Araújo, o Nivaldo do Acordeon. Ele teve a safona roubada há três anos e, após ver a sanfona de Nivaldo nas redes sociais, acreditou ser a mesma furtada. A sanfona foi “presa” na delegacia até o final da apuração dos fatos. Nivaldo apresentou documento de compra e venda, comprovando a propriedade da mesma. Com a prova, concluiu-se o processo.

Admirador do som do instrumento e fã de Luiz Gonzaga e da cultura musical nordestina, o juiz Teomar disse que a ideia da poesia da Sanfona surgiu a partir de todo um contexto histórico da origem da sanfona, inserida em uma contenda jurídica, disputada pelos dois grandes sanfoneiros.

Natural do município de Nova Olinda-PB, ele ingressou na magistratura baiana em 2013, inicialmente na comarca de Jacaraci, e depois Itapicuru, com substituição em Coração de Maria. Em abril de 2017, chegou a Senhor do Bonfim, e, em menos de um ano, foi agraciado com o título de “cidadão bonfinense”, pelos vereadores da denominada "capital baiana do forró”.

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Decisão

 No embalo da emoção
Sanfoneiros pedem aquela sanfona velha
Que um dia já foi bela
Hoje ela é castigada, afastada da canção
Condenada a viver gelada
No banheiro da prisão


E o sanfoneiro engaiolado
Sem a voz, os dedos e o pulmão
Distante da sanfona velha
Seu maior bem de estimação
Espera que o Juiz diga qual o querelado
Que levará a sanfona do povo junto ao seu coração


Não há mais tempo de espera
Para uma decisão que preste
O povo está desolado
Por ver o maior símbolo do Nordeste
Que despontou numa tapera
Como um pássaro engaiolado


De tão simples instrumento
Das cantigas do sertão, xote, xaxado e baião
Passou à relíquia sem documento
De disputa encarecida, cobiçada no momento
Que chega a envergonhar o nosso Rei Gonzagão
Quando disse outro dia que o jumento é nosso irmão


Pobre sanfona do povo
Pagando o que não deve
Como qualquer prisioneiro
Presa por ser a rainha do Nordeste e do Sertão
Não pode mais permanecer
Como adorno de banheiro de masmorra da prisão


Não sei quem é o proprietário
Mas, o possuidor do melhor documento (fls. 62)
É presumido o signatário
Dono daquele instrumento
Ficando com o direito
De recebê-la no peito como fiel depositário


Não decido por decidir
Mas, por a lei me permitir (art. 120, § 4º, CPP)
Colocar em suas mãos
Que outrora foi tirada, do povo e dos cidadãos
Sem piedade e compaixão
Aquela sanfona velha que imortalizou Gonzagão


Nilvado o direito é seu, como fiel depositário
Visto o seu opositor não ter provado o contrário
Até que se finde a contenda
Delegado me atenda
Como da outra vez foi buscar
A bela sanfona do povo, vá agora entregar


E para finalizar
Hei por bem declarar
Que fui competente para buscar
Sou também para entregar
Cumpra-se, sem titubear.

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