Moradores de Senhor do Bonfim fazem ato e pedem retorno da guerra de espadas



O desfile cívico em comemoração aos 138 anos da cidade de Senhor do Bonfim, no centro-norte da Bahia, serviu de oportunidade para moradores demonstrarem a insatisfação com a proibição da famosa guerra de espadas no município. Neste domingo (28), o bloco da Associação Cultural dos Espadeiros de Senhor do Bonfim (Acesb) protestou em defesa da prática carregando cartazes com frases como "Nossa tradição não é crime".


Ao som de Cometa Mambembe, canção de Carlos Pitta e Edmundo Carôso que marca presença nos repertórios carnavalescos e juninos, a ala, que reuniu cerca de 250 pessoas, marchou pacificamente contra a proibição da tradição, que é defendida pela influenciadora Letícia Costa, moradora de Bonfim. 

Em um vídeo compartilhado por um portal de Senhor do Bonfim, o prefeito da cidade, Laércio Junior, reforçou a decisão do MP-BA em um evento do município, há quatro dias. "Não consta no nosso calendário nada oficial, não teremos nenhum deslocamento de estrutura municipal para qualquer situação como essa, até porque está judicialmente vetada realização da guerra de espadas", afirmou o gestor.




"É um desaforo a proibição da guerra de espada, é um apagamento cultural, porque Senhor do Bonfim tem 138 anos de história, desde sempre teve a guerra de espadas. Hoje, a cidade é conhecida no Brasil inteiro com um dos melhores São João e, dentro disso, ainda é conhecida a guerra. Então, proibir a prática mostra que querem transformar uma tradição em um crime", disse a influenciadora digital, que fez questão de registrar o momento em seu perfil oficial do Instagram. 


Tradicional em várias cidades baianas, como Cruz das Almas, Sapeaçu, Muritiba e Governador Valadares, a guerra de espadas passou a ser proibida judicialmente em 2017, pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA). Dois anos depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a lei municipal que declarava a prática como patrimônio cultural imaterial do município.


No ano passado, quando ocorreu o retorno dos festejos de São João após a pausa devido a pandemia da Covid-19, uma liminar foi emitida ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas não houve sucesso para os espadeiros. O Tribunal de Justiça estadual ainda derrubou a decisão liminar que permitia a realização da guerra em três ruas de Senhor do Bonfim.


Apesar de ter se transformado em uma prática ilegal, a guerra de espadas não deixa de acontecer. Em junho de 2022, um menino perdeu 11 dentes após ser atingido em uma das atrações de Cruz das Almas, no recôncavo baiano. O garoto foi submetido a cirurgias para reconstrução de língua e boca. 


A tesoureira da Acesb, Hyezza Tavares, afirmou que a espada não é uma arma de fogo e, portanto, não deveria estar enquadrada como um artefato explosivo ou incendiário, mas sim um artefato pirotécnico, além de citar a geração de renda para famílias bonfinenses que produzem os objetos utilizados nas guerras.


"A questão não é apenas a nossa forma cultural, as nossas demandas culturais, mas também as pessoas que produzem o artefato: são famílias, às vezes até vulneráveis, que têm aquela fonte de renda apenas no mês de junho e acabam perdendo essa forma, porque não há uma formalização do artefato, essa padronização é o que a Acesb está buscando", pontuou Hyezza.


A reportagem entrou em contato com a assessoria da prefeitura do Senhor do Bonfim para obter mais informações, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. 


*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo


O Correio 24h

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